1ª – Associamos o conteúdo com o ambiente
de estudo. Pense: é mais fácil se lembrar do que você come em
restaurantes diferentes do que no mesmo refeitório. Forçar associações
1ª Guerra-sala/ 2ª Guerra-cozinha) torna a informação mais encontrável
quando você precisar dela.
Misture assuntos
2ª – Uma sequência de gramática,
matemática e história exige mais do cérebro do que se concentrar em um
assunto por vez. Esse esforço é bom: em vez de engatar no piloto
automático e não muito concentrado, trocar de assunto faz com que ele
retome a atenção a cada assunto novo.
Dê uns tempos
3ª – Uma sessão na sexta, outra no fim de semana e outra na segunda
são melhores do que um domingo inteiro de dedicação. Quando você retomar
o mesmo assunto depois de um tempo, seu cérebro vai fazer uma revisão
automática para então aprender coisas novas.
Force a memória
4ª – Tente se lembrar do conteúdo sem
consulta. Recuperar uma ideia é diferente de tirar um livro da estante:
lembrar altera a forma como a informação será arquivada, tornando-a mais
acessível e relevante quando precisar dela novamente.
De mal a melhor
5ª – A ordem das matérias deve ser da
mais difícil para a mais fácil, ou da menos familiar para a mais
conhecida. O resultado é que a sessão de estudo vai se tornando menos
chata conforme progride, prevenindo desistências.
Lazer incluído
6ª – Estudar pensando em diversão é tão
ruim quanto não estudar. Inclua no seu planejamento prêmios por dever
cumprido: Se você seguir sua programação, pode se dar ao luxo de uma
sessão de cinema.
Ninguém sabe detalhes da vida do último e mais importante líder do Quilombo dos Palmares
Reportagem Reinaldo Lopes |
O nome dele era Zumbi, mas talvez o certo fosse Zambi. Ele pode
ter nascido na África e ter sido trazido para cá à força, mas há quem
diga que ele era brasileiro e livre. Nem temos certeza de que ele era
filho de africanos – se ele nasceu no Brasil, é possível que seu pai
fosse africano e sua mãe, índia. Sua morte também é envolta em mistério.
Só não existem dúvidas a respeito de uma coisa: até seus adversários o
definiam como um homem forte, orgulhoso, inconformado com sua condição
social, que resolveu enfrentar seus algozes e libertar seu povo. E ele
foi longe nesse objetivo. O Quilombo dos Palmares deu trabalho ao
governo de Portugal.
O quilombo foi construído na serra da Barriga, uma área que hoje faz
parte do estado de Alagoas. O terreno era uma espécie de fortaleza
natural: tinha barrancos que dificultavam o acesso e palmeiras fazendo
uma espécie de muralha. Palmares surgiu por volta de 1580, quando
escravos que fugiam de Pernambuco e da Bahia construíram uma pequena
vila fortificada, onde eles podiam ser livres e estavam protegidos dos
soldados que capturavam e matavam os fugitivos dos engenhos de
cana-de-açúcar do litoral. No auge da ocupação, em 1670, o quilombo
teria chegado a 30 mil moradores – talvez esse número seja um exagero.
Mesmo depois da morte de Ganga-Zumba e de Zumbi, seus dois maiores
líderes, os escravos ainda resistiram até o ano de 1710.
Se os criadores do quilombo realmente vieram de um engenho, a grande
maioria deveria ser homem, pois as fazendas abrigavam poucas mulheres.
Talvez por isso, já nos primeiros anos de organização, o aglomerado de
fugitivos virou uma pedra no sapato dos portugueses. Volta e meia, os
habitantes de Palmares invadiam engenhos para libertar escravos, roubar
comida e armas e, principalmente, raptar mulheres. Em 1602, o
governador-geral do Brasil, Diogo Botelho, mandou uma expedição contra
eles. Foi a primeira das mais de 40 missões de ataque. Era difícil
vencer os escravos porque, quando as tropas chegavam, eles abandonavam a
cidade e se escondiam no mato.
Quando os holandeses invadiram o Nordeste, os engenhos de açúcar
perderam o controle sobre seus escravos e as fugas aumentaram. Palmares
recebeu milhares de novos moradores e, em 1654, quando os holandeses
foram expulsos, a vila tinha virado uma potência formada por vários
aglomerados populacionais, que vendiam e compravam produtos das cidades
vizinhas. Nessa fase, pode ser que até brancos tenham vivido dentro do
quilombo. E com certeza havia índios morando lá dentro ou por perto.
Escavações arqueológicas têm encontrado cerâmica indígena, provavelmente
da mesma época de Zumbi.
Crescimento
Essa confederação de povoados escolheu como chefe um guerreiro
conhecido como Ganga-Zumba, que morava em Macaco, a principal vila do
refúgio. Não se sabe se “Ganga-Zumba” seria nome próprio ou um título
dado ao líder. “A palavra ganga significava ‘poder’ ou ‘sacerdote’ em
várias sociedades da África central”, diz o historiador Flávio Gomes,
professor do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Para a maioria dos especialistas, foi nessa época de relativa
calmaria que Zumbi teria crescido em Palmares. Um dos motivos para
sustentar que o líder nasceu ali mesmo e não chegou depois, fugindo da
escravidão, é o fato de que ele seria sobrinho de Ganga-Zumba. Mas o
parentesco também não é garantido, já que a palavra “sobrinho” podia ter
um sentido simbólico.
Não há relatos confiáveis sobre a juventude de Zumbi. É em um
relatório do comando militar da capitania de Pernambuco, escrito por
volta de 1670, que seu nome aparece citado pela primeira vez. Ele seria o
homem de confiança do chefe Ganga-Zumba, uma espécie de general dos
exércitos de Palmares. Outros documentos da mesma época destacam a
capacidade militar de Zumbi. Um deles diz que, ao enfrentar uma
expedição liderada por Manuel Lopes Galvão, Zumbi levou um tiro na perna
que o teria deixado manco, mas ele continuou lutando mesmo assim.
Missões de ataque
Por volta de 1670, matar Ganga-Zumba e Zumbi virou questão de honra
para o governo português. Mas, em 1678, a raiva já tinha passado um
pouco. Cansado das derrotas seguidas, o governador-geral propôs um
acordo de paz. Ganga-Zumba aceitou, e deixou Palmares com algumas
centenas de seguidores. Ele morreu pouco tempo depois, e há quem diga
que foi Zumbi que mandou envenená-lo por ter abandonado seu povo. O novo
líder do quilombo não quis saber de trégua. Em 1690, o governo enviou o
bandeirante Domingos Jorge Velho para atacar a região. Apanhou na
primeira tentativa, mas voltou em 1692, com 9 mil homens e alguns
canhões. Depois de semanas de luta, os bandeirantes invadiram a capital
de Palmares. Zumbi fugiu. Ele só viveria mais um ano, até ser traído e
morto por um companheiro, Antônio Soares. Os bandeirantes deram ao corpo
de Zumbi o destino de várias outras pessoas que na época eram
consideradas traidoras da pátria. Seus olhos foram arrancados, sua mão
direita foi cortada e seu pênis foi decepado e enfiado em sua própria
boca. Já a cabeça foi salgada e levada para Recife, onde apodreceu em
praça pública.
A lenda do suicídio coletivo
Logo depois de se aproximar de Zumbi e cumprimentá-lo, o traidor
Antônio Soares o matou com uma punhalada. É assim que os historiadores
acreditam que o líder dos Palmares foi assassinado. Mas, antigamente,
existia uma outra explicação, bem mais dramática. “Até o início dos anos
60, os historiadores diziam que Zumbi e seus seguidores tinham cometido
suicídio ao se atirar dos penhascos da serra da Barriga”, diz o
historiador Flávio Gomes. Não é verdade, mas essa lenda pode ter surgido
por causa de uma das últimas batalhas da guerra de resistência. O
bandeirante Jorge Velho construiu uma muralha de apoio, em diagonal,
para levar seus canhões para perto do quilombo. A única forma de
atacá-la era subir por um barranco. Alguns quilombolas tentaram usar
essa estratégia para fazer um ataque-surpresa contra o bandeirante. Quem
era baleado rolava pelo barranco, o que pode ter dado a falsa impressão
de suicídio.
• A Hidra e os Pântanos, Flávio Gomes, Unesp, 2005. Compara os
quilombos do Brasil com outros grupos de rebeldes em outros países do
continente
• Palmares, Ontem e Hoje, Pedro Paulo Funari e Aline V. de Carvalho,
Jorge Zahar, 2005. Ótima introdução à história do quilombo. O professor
Funari trabalhou nas primeiras escavações feitas no local
A sina de Alfo
Alfo
era um ratinho muito prestativo que trabalhava para o Rei Leão. Era
alegre, brincalhão , amigo com o qual o rei podia contar vinte e quatro
horas por dia.
Mas com o passar do
tempo, Alfo foi ficando triste, pois vivia praticamente preso às suas
obrigações de ajudante-de-ordens, conselheiro, ombudsman, mão direita,
mensageiro, e não tinha tempo para mais nada. Por causa de sua índole
alegre e expansiva, o ratinho gostava de viver livremente. Por isso,
ultimamente, o seu emprego o desgostava muito; sentia-se escravo do
dever.
O ratinho Alfo tornava-se
cada vez mais sério, mais taciturno; nem as mais engraçadas piadas do
papagaio o faziam rir. Os bichos viviam fazendo-lhe graça para tentar
descontraí-lo e sugeriam com preocupação:
- Alfo, ria ! Rir faz bem !
- Alfo, ria ! Você está envelhecendo .
Mas quê ! Alfo foi ficando cada vez mais calado, até que um dia resolveu falar com o Rei.
- Senhor , não agüento
mais o peso das obrigações. Sou um ratinho sagitariano, quero viajar,
ser livre e o excesso de dever está me matando. Nem rir mais eu rio !
Todos vivem me pedindo : - Alfo, ria ! Você está muito triste ! - porque
percebem que estou ficando cada vez mais descontente !
- E o que você sugere, meu fiel amigo ?
- Que o senhor me libere
de serví-lo . Continuarei sendo seu melhor amigo, se quiser, seu
conselheiro, mas quero ser livre. Quero dormir de madrugada, acordar com
o sol no meu focinho, quero visitar novas florestas , mas trabalhando
assim como trabalho, não posso fazer nada disso !
- É, meu caro ratinho, você tem razão.
- Sabe, majestade, se eu
continuar trabalhando tanto, sem ter tempo para mim , vou me tornar
amargo . Por favor, liberte-me de minhas obrigações.
- Quem sou eu para ir
contra a personalidade de alguém ? Prefiro-o como um amigo alegre a um
fiel servidor triste. De hoje em diante, você está livre, Alfo.
Alfo ria sem parar. Estava realmente feliz e poderia fazer tudo aquilo que quisesse.
E foi a partir dessa
história, a história do ratinho Alfo que queria a libertação do pesado
jugo do trabalho, que nasceu a palavra alforria.”
O biólogo Mia Couto presenciou os dois primeiros ataques de leões de
uma série de 26 casos, ocorridos no ano de 2008, quando visitava a
aldeia de Palma, no norte de Moçambique. Os sangrentos episódios eram
uma resposta do desequilíbrio ambiental no país africano e o escritor
quis transformá-los em ficção, surgindo assim o livro “A confissão da
leoa” (Cia das Letras, 2012), a ser lançado com sessão de autógrafos
neste sábado (17), às 19h, na Festa Literária Internacional de
Pernambuco (Fliporto).
Mia Couto fala sobre literatura e realidade na Fliporto 2012 (Foto: Luna Markman/G1)
Antes deste encontro com o público, Mia Couto participa no mesmo dia,
às 10h, de um painel com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, com
mediação de Zuleide Duarte, sobre literatura e realidade (com transmissão ao vivo do G1).
“Para mim, a literatura é outra realidade, é um território onde eu
regresso à minha infância feliz, é a minha grande caixa de tesouros,
onde estou autorizado a olhar o mundo de novo como um brinquedo, e eu
vivo circulando entre esses dois mundos”, disse.
É que a paixão pela natureza começou cedo. Aos dois anos, António
Emílio Leite Couto pediu aos pais para ser chamado de Mia, “pois parecia
com o miado dos meus gatos”, explicou. No entanto, optou pela medicina,
curso que largou para militar pela libertação de Moçambique, no começo
dos anos 1970.
Mia Couto participou da luta pela independência de Moçambique, quando
se juntou à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Nunca pegou em
uma arma de fogo. A guerrilha insurgente proibia brancos de andarem
armados. A arma, desde aquela época, era mesmo a caneta, trabalhando
como jornalista durante os anos de batalha.
Hoje, está longe da militância partidária. Desencantou-se com os
antigos colegas do front. “Eles mudaram muito rapidamente o discurso.
Acho que o desencanto político é geral, em todo o mundo. Esse modo de
fazer política com partidos que atuam em nosso nome e nos limitarmos a
participar apenas de quatro em quatro anos, na hora de votar, precisa
mudar. Uma pessoa com celular e internet consegue agregar muito mais
gente que os partidos”, falou.
Mia também afirma que não usa a literatura como forma de ativismo
político. “Sei que acabo tomando uma posição, mas não utilizo meus
livros para combates. Como cidadão, contribuo hoje fazendo intervenções
em escolas, universidades, encontro com jovens, escrevendo para
jornais”, comentou com uma voz baixinha, pacata, quase apaziguadora. Leoas
O livro “A confissão da leoa” foi inicialmente inspirado pelos ataques
de leões a pessoas em Moçambique, mas o foco principal da história não
ficou nesse assunto. Mia não queria contar uma história africana de
forma clichê, cheia de caçadas e animais ferozes. Ele se infiltrou na
aldeia de Palma, com a desculpa de estar trabalhando como ambientalista,
ganhando intimidade entre os moradores.
“O livro acaba falando muito da condição da mulher, que são muito
oprimidas naquele universo rural, não são autorizadas a serem pessoas.
Elas foram as principais vítimas, pois vão ao rio buscar água e tomam
conta da colheita nos campos. Criei personagens, muitos inspirados em
pessoas reais, que me seduziram, que fizeram a história acontecer,
porque não arquiteto nada muito definitivo antes de escrever”, contou.
Outra mensagem da obra fere o ego do homem, daquele que se acha a
grande espécie da cadeia. “Como turistas, observamos os leões de longe,
mas quando saímos da zona de conforto e ficamos sem defesa, percebemos
que há um mundo que ainda não governamos e nos sentimos frágeis, o que é
fundamental para nós compreendermos a nossa dimensão, que não somos tão
importantes quanto achamos”, apontou.
A personalidade do romancista, contista, poeta, jornalista e professor
moçambicano depende muito do “Mia biólogo”, que atualmente tem uma
empresa que realiza estudos de impacto ambiental em países da África.
“Além de ser mais um saber, a biologia é uma forma de me familiarizar
com outros seres de que nos afastamos”, falou.
Mia Couto hoje é o escritor de Moçambique mais conhecido no exterior e
um dos mais destacados da literatura africana de expressão portuguesa.
Em 1999, recebeu o prêmio Vergílio Ferreira pelo conjunto de sua obra e,
em 2007 o prêmio União Latina de Literaturas Românicas.
É autor de “Terra Sonâmbula”, considerado um dos dez melhores livros
africanos do século XX, “Estórias Abensonhadas”, “Antes de nascer o
mundo”, “E se Obama fosse africano?”, “O último voo do flamingo” e “A
chuva pasmada”. Mia é também escreveu livros voltados para o público
infanto-juvenil, como “O beijo da palavrinha”, “Mal me quer” e “O gato e
o escuro”.
A prática relacionada à busca pelo conhecimento deve ser uma constante
em nosso cotidiano. Tal afirmativa parece tornar-se ainda mais verídica à
medida que nos conscientizamos de que “o saber”, tomado em seu sentido
amplo, é incomensurável e, sobretudo, imprescindível ao nosso
crescimento, pessoal e profissionalmente falando.
Sempre que estabelecemos contato com um assunto que, até então, não nos
é muito familiar, procuramos associá-lo, primeiramente, ao nosso
conhecimento de mundo, ou seja, aquele conhecimento adquirido ao longo
de nossa vivência.
De forma que, ao nos atermos à questão do título em pauta, desde já o
contextualizamos à nossa “bagagem” cultural e, desta feita, reconhecemos
que ele se encontra relacionado à ação de relatar acerca de um
determinado procedimento, fatos circunstanciais, leituras realizadas,
filmes assistidos, dentre outras instâncias.
Parece que se assim procedermos, tudo torna-se ainda mais claro e
evidente, não é mesmo? Mas de modo específico, partiremos para conhecer
um pouco mais sobre as características inerentes a essa modalidade
textual.
O relatório compõe aquela que ora se denomina de Redação Técnica, que
além de requisitar o emprego do padrão formal da linguagem, ainda se
constitui de determinadas técnicas essenciais à sua produção. Assim como
o requerimento, a declaração, o manifesto, a carta comercial, dentre
tantos outros casos representativos.
O gênero em questão costuma se evidenciar tanto no universo escolar
quanto no acadêmico. Sem contar que em meio ao ramo empresarial ele
também se encontra inserido, dada a infinidade de situações de
aplicabilidade.
Em virtude de pertencer ao âmbito linguístico escrito, compõe-se de algumas particularidades, é o que veremos adiante:
* Título –
Esse costuma ser objetivo, claro e sintético;
* Remetente –
Refere-se à autoria do documento;
* Destinatário –
Refere-se à pessoa para a qual é destinado;
* Assunto –
É o desenvolvimento em si do discurso proferido, contendo todas as informações relevantes ao que ora se pretende relatar;
* Conclusão –
Trata-se do fechamento das ideias apresentadas, ou seja, o que pôde ser obtido com o procedimento realizado como um todo.
A Carta Argumentativa
Situando-nos diante do contexto que hoje rege de modo contundente as
relações sociais, determinados meios de comunicação parecem não se
adequar mais aos ditames vigentes.
Mediante tal afirmativa, remetemo-nos ao assunto ora em discussão, ou
seja, a carta. Durante muito tempo esse instrumento vigorou como sendo a
principal, senão a única, alternativa da qual as pessoas dispunham para
manterem contato entre si.
Mas como sabemos, a evolução é algo essencial à nossa vivência e, como
tal, ela se faz presente a cada dia que passa, permeando os mais
diversos setores da esfera social. E para sermos um tanto quanto
precisos, ressaltamos o caso dos recursos tecnológicos. Estes, por
excelência, estão gradativamente se entremeando no cotidiano das pessoas
e, de certa forma, influenciando-as no que diz respeito ao
comportamento adotado.
Diante disso, retomamos sobre a recorrência da carta, pois torna-se
notório que a mesma cedeu lugar às inúmeras formas de comunicação que
atualmente norteiam a convivência humana, como é o caso do E-Mail,
Orkut, MSN, entre tantos outros. Tamanha diversidade surgiu no intuito
de dinamizar e ampliar o contato entre os seres e seus semelhantes.
Mediante essa ocorrência, será que devemos abolir a existência e,
sobretudo, a utilidade inerente à carta? De forma alguma, mesmo em meio a
tanta tecnologia, tal recurso comunicativo ainda prevalece, até porque
nem todas as pessoas tiveram a oportunidade de compartilhar deste
crescente desenvolvimento. Não somente por este motivo, mas também em
virtude de a carta, na qualidade de gênero textual, compor um dos
conteúdos requisitados pela maioria dos concursos públicos e
vestibulares.
Em decorrência disso, e principalmente por nos referirmos sobre algo
pertencente à linguagem escrita – uma vez que esta constitui-se de
elementos específicos, é que devemos nos conscientizar da importância de
estarmos aptos a compô-la de maneira correta.
A carta argumentativa é um texto que, como a própria nomenclatura
revela, pauta-se por persuadir o interlocutor por meio dos argumentos
por ela atribuídos. A intencionalidade discursiva é retratada por uma
reclamação e/ou solicitação por parte do emissor no sentido de convencer
o destinatário de forma específica (geralmente na pessoa de uma
autoridade ou alguém com poder de decisão) a fim de que o mesmo possa
atender à solicitação ora realizada.
No que se refere à linguagem, esta poderá ou não ser totalmente objetiva, mas certamente deverá ser clara e coesa.
Quanto à estrutura, ela compõe-se dos seguintes elementos:
# Local e data;
# Identificação do destinatário;
# Vocativo –
o nome da pessoa para a qual a carta é
endereçada. Neste caso, o pronome de tratamento ocupa lugar de destaque,
dependendo do grau de ocupação/função desempenhada.
# Corpo do texto –
É a exposição do assunto em si, de forma a abordar todos os aspectos pertinentes de maneira clara, sucinta e precisa.
# Expressão de despedida –
Tal procedimento pode
variar em se tratado do grau de intimidade entre os interlocutores,
podendo ser mais formal ou denotando certa informalidade.
# Assinatura do remetente.
A notícia - Um gênero textual de cunho jornalístico
Antes de adentrarmos de forma minuciosa no que se refere às
características que norteiam o gênero em evidência, ora constituído pela
notícia, torna-se de fundamental importância compreendermos o sentido
retratado pelo termo – gênero textual.
Ao nos referirmos a este, devemos associá-lo às inúmeras situações
sociocomunicativas que circundam pelo nosso cotidiano. Todas possuem uma
finalidade em comum, ou seja, uma intencionalidade pretendida pelo
discurso que as compõe. Tais finalidades se divergem, dependendo do
objetivo proposto pelo emissor mediante o ato comunicativo.
Em se tratando da notícia, qual seria a intenção por ela pretendida?
Certamente, a de nos informar sobre uma determinada ocorrência. Trata-se
de um texto bastante recorrente nos meios de comunicação de uma forma
geral, seja impressa em jornais ou revistas, divulgada pela Internet ou
retratada pela televisão.
Em virtude de a notícia compor a categoria preconizada pelo ambiente
jornalístico, caracteriza-se como uma narrativa técnica. Tal atribuição
está condicionada principalmente à natureza linguística, pois diferente
da linguagem literária, que, via de regra, revela traços de intensa
subjetividade, a imparcialidade neste âmbito é a palavra de ordem.
Assim sendo, como a notícia pauta-se por relatar fatos condicionados ao
interesse do público em geral, a linguagem necessariamente deverá ser
clara, objetiva e precisa, isentando-se de quaisquer possibilidades que
porventura tenderem a ocasionar múltiplas interpretações por parte do
receptor.
De modo a aprimorar ainda mais os nossos conhecimentos quanto aos
aspectos inerentes ao gênero em foco, enfatizaremos sobre seus elementos
constituintes:
Manchete ou título principal
– Geralmente apresenta-se grafado de forma bem evidente, com vistas a despertar a atenção do leitor.
Título auxiliar
– Funciona como um complemento do principal, acrescentando-lhe algumas informações, de modo a torná-lo ainda mais atrativo.
Lide (do inglês lead) -
Corresponde ao
primeiro parágrafo, e normalmente sintetiza os traços peculiares
condizentes ao fato, procurando se ater aos traços básicos relacionados
às seguintes indagações: Quem? Onde? O que? Como? Quando? Por quê?
Corpo da notícia – Relaciona-se à informação propriamente
dita, procedendo à exposição de uma forma mais detalhada no que se
refere aos acontecimentos mencionados.
Diante do que foi exposto, uma característica pertinente à linguagem
jornalística é exatamente a veracidade em relação aos fatos divulgados,
predominando o caráter objetivo preconizado pelo discurso.
A Reportagem
O cotidiano jornalístico dispõe de vários gêneros, dos quais tomamos
conhecimento diariamente, ora retratados oralmente, ora impressos, ou
até mesmo veiculados pelo meio eletrônico. A reportagem, assim como a
notícia, representa tal modalidade, cujo objetivo é proporcionar ao
público leitor/expectador a interação com os fatos decorrentes da
sociedade.
A notícia e a reportagem apresentam aspectos
convergentes e divergentes ao mesmo tempo. Em virtude de tal semelhança,
daremos ênfase não somente às características inerentes à reportagem,
mas também à notícia, no intuito de compreendermos efetivamente sobre
suas peculiaridades.
Os pontos em que se convergem estão relacionados aos aspectos
estruturais, ou seja, é comum identificarmos na reportagem os mesmos
elementos constituintes da notícia:
Título ou manchete – Geralmente escrito em letras
garrafais (maiúsculas), tem por objetivo atrair a atenção do
público-alvo para o que se deseja comunicar. Daí o perfil atrativo,
composto por frases concisas, embora bastante objetivas.
Título auxiliar – Como bem retrata a própria
nomenclatura, trata-se de um complemento do título principal,
proporcionando um maior interesse por parte do interlocutor.
Lide – Refere-se ao primeiro parágrafo e, de forma
sucinta, apresenta todos os aspectos relevantes da comunicação em pauta,
respondendo aos seguintes elementos constitutivos: Como? Onde? Quando?
Por quê? Quem? .
Corpo da reportagem – Caracteriza-se pelo desenvolvimento em si, apontando todos os pontos relevantes ao assunto abordado.
O aspecto divergente é em relação à forma como se apresenta. A
reportagem precisa ir além de uma simples notificação, fato representado
pela notícia. Ela é resultante de inúmeras relações de causa e efeito,
questionamentos, comparações entre pontos de vista diferentes, dados
estatísticos, dentre outros pressupostos.
Partindo-se de tais premissas é importante ressaltarmos também sobre
como se materializa o tema proferido pela reportagem, podendo este ser
narrado de forma expositiva – na qual o repórter se atém à apresentação
simples e objetiva dos fatos; interpretativa – modalidade em que se
estabelece conexão com acontecimentos já decorridos; e a opinativa – em
que há um propósito de convencer o interlocutor acerca de uma
determinada opinião.
Artigo de Opinião
Posicionar-se acerca de um determinado tema – Principal característica do gênero
Em meio à nossa vivência do dia a dia, estamos a todo instante nos
posicionando a respeito de um determinado assunto. Essa liberdade que
nos é concedida faz com que nos tornemos seres ímpares, dotados de
pensamentos e opiniões acerca da realidade circundante, por vezes
absurda e cruel.
Tal particularidade, relacionada a este perfil singular, desencadeia
uma série de posicionamentos divergentes, os quais são debatidos e
confrontados por meio de uma interação social – fato que confere uma
característica dinâmica à sociedade, visto que, caso contrário, as
relações humanas se tornariam frustrantes e monopolizadas.
De forma específica, atenhamo-nos ao título em questão quando o mesmo
perfaz-se de dois termos básicos: Artigo e opinião. Procurando
compreendê-los de acordo com seu sentido semântico, surge-nos numa
primeira instância, a ideia de algo relacionado à escrita.
Munidos de tal percepção, sabemos que a mesma constitui-se de certas
particularidades específicas, e mais! Trata-se de um gênero textual
comumente requisitado em exames de vestibulares e concursos públicos de
uma forma geral.
Sendo assim, torna-se imprescindível incorporá-lo aos nossos
conhecimentos e, sempre que necessário, colocá-lo em prática.
Enfatizaremos então sobre alguns pontos pertinentes à modalidade em
referência.
O artigo de opinião é um gênero textual pertencente ao âmbito
jornalístico e tem por finalidade a exposição do ponto de vista acerca
de um determinado assunto. Tal qual a dissertação, ele também se compõe
de um título, um parágrafo introdutório o qual se caracteriza como sendo
a introdução, ao explanar de forma geral sobre o assunto do qual
discutirá.
Posteriormente, segue o desenvolvimento arraigado na desenvoltura dos
argumentos apresentados, sempre tendo em mente que esses deverão ser
pautados em bases sólidas, com vistas a conferir maior credibilidade por
parte do leitor. E por fim, segue a conclusão do artigo, na qual
ocorrerá o fechamento das ideias anteriormente discutidas.
Anúncio Publicitário
Basta sairmos pelas ruas que tão logo nos deparamos com uma infinidade de faixas, cartazes, anúncios, outdoors... Todos envoltos por um único objetivo: o de atrair a atenção do leitor mediante o ato comunicativo.
O discurso apresenta-se de forma variada – divulgando um determinado
evento, como por exemplo, um show, uma feira cultural, de moda,
anunciando uma promoção referente ao comércio lojístico, anunciando um
produto que acabara de ser lançado no mercado. Enfim, vários são os
objetivos traçados por parte do emissor, tentando persuadi-lo de alguma
forma.
Diante de tal finalidade discursiva, a linguagem, necessariamente,
precisa não somente ser clara e objetiva, mas também, bastante atrativa.
Para tanto, torna-se indispensável o predomínio de uma linguagem não
verbal, uma vez que imagens tendem a ser mais chamativas e,
consequentemente, contribuem para a concretização dos objetivos
propostos. E, falando sobre linguagem, é essencial que saibamos sobre um
aspecto bastante peculiar – a presença de alguns recursos estilísticos
voltados para a conotação, ou seja, passíveis de múltiplas
interpretações. Assim, metáforas, comparações, hipérboles, dentre
outras, são indispensáveis. Analisemos, pois, um caso representativo:
Defrontamo-nos com uma linguagem ambígua – o fato de o sorriso ser
amarelo em seu sentido literal, como também representar aquele sorriso
sem entusiasmo, enfadonho, abnegado de qualquer traço atrativo.
Percebemos que o próprio produto (marca) intertextualiza um procedimento
inerente às atitudes humanas – o sorriso.
Quanto aos elementos que constituem o gênero em pauta, destacamos:
Título –
Compõe-se de frases concisas, porém atrativas.
Imagem –
Representa um elemento de fundamental importância para o discurso, dado o seu caráter persuasivo.
Corpo do texto –
Trata-se do desenvolvimento da ideia
em si, proporcionando uma interação entre os interlocutores por meio de
um vocabulário sugestivo e adequado ao público-alvo.
Identificação do produto ou marca –
Constitui-se de
uma assinatura do próprio anunciante, podendo também haver um slogan –
uma frase curta que defina o produto anunciado. No exemplo acima podemos
perfeitamente constatar este fato.
Seminário
O seminário representa um gênero oral que requer posicionamentos definidos por parte dos apresentadores
São muitas as circunstâncias em que você tem de expor seus argumentos,
revelar suas ideias, opiniões, enfim, posicionar-se acerca de um
determinado assunto. Contudo, não estamos falando da escrita, mas sim de
um procedimento essencialmente realizado por meio da oralidade. Dentre
as várias circunstâncias comunicativas com as quais temos contato
diariamente, surge mais um gênero textual: o seminário.
Amplamente difundido no meio escolar, acadêmico, científico e técnico, o
seminário confere às pessoas que dele participa a oportunidade de
apresentar os conhecimentos adquiridos mediante o estudo de um
determinado tema. Nesse sentido, torna-se essencial que os
apresentadores adotem posturas condizentes com o contexto no qual se
encontram inseridos, levando em conta todos os aspectos requeridos pela
situação comunicativa em questão. Dessa forma, o objetivo a que se
presta o artigo em pauta é exatamente fazer algumas abordagens acerca
desse fato, no sentido de fazer com que você, caro (a) usuário (a),
mantenha-se a par de todos esses pressupostos.
A palavra de ordem, num primeiro momento, é “planejamento”. Assim, todo
apresentador deve se conscientizar de que o público-alvo espera, “no
mínimo”, domínio do conteúdo abordado. Para tanto, cercar-se de todas as
informações é imprescindível, sendo essas obtidas por meio de uma
pesquisa muito bem preparada, através de livros, meio eletrônico,
jornais, revistas, vídeos, etc.
Uma vez elencadas, torna-se necessário elaborar um esquema, no sentido
de pontuar aquelas informações importantes, essenciais. O esquema
funciona como uma espécie de roteiro que guiará o apresentador. Assim,
trabalhando a hipótese de que algumas das principais ideias podem ser
esquecidas, entra em ação o roteiro previamente elaborado. Mas isso não
dá ao apresentador o direito de “ler” aquilo que anotou, salvo em se
tratando de uma citação, proferida por outrem, haja vista que aí não há
como proceder de forma diferente.
Outro aspecto reside no fato de que os demais participantes precisam
estar em sintonia com tudo aquilo que está sendo apresentado.
Principalmente no ambiente escolar, o que mais se constata é a
“distribuição de partes”, isto é, cada um fica com uma fala determinada –
fato que corrobora tão somente para que o discurso se manifeste como
truncado, denotando não haver nenhum entrosamento entre o grupo. Nesse
sentido, é essencial que todos estejam bem preparados e dispostos a
responder aos questionamentos da plateia. Mas e em relação à postura,
como essa deve ser concebida?
Saiba que se trata de algo notadamente importante, pois a imagem que
devemos passar às pessoas que nos assistem tem de ser positiva, a
começar pelas vestimentas, gestos, entonações, expressões faciais.
Nesse sentido, antes de tudo, você deve passar uma ideia de respeito
para com o público, utilizando-se de um tom de voz que consiga atingir a
todos, ou seja, nem estridente ao extremo, nem monótono demais.
Posicionar-se de frente é também sinal de postura firme. Mesmo quando há
a necessidade de escrever no quadro-negro ou realizar algum
procedimento nos recursos audiovisuais, é sempre bom ficar de lado para a
plateia, nunca de costas. O uso da linguagem, não menos importante,
deve estar de acordo com a situação, sendo essa materializada por uma
linguagem formal, totalmente isenta de chavões, gírias, cacoetes ou
quaisquer sinais que porventura possam contradizer o “protocolo”.
Cabe ressaltar, ainda, que a apresentação deve seguir alguns critérios
básicos, tais como a abertura, que normalmente fica a cargo do professor
ou de uma pessoa designada a tal. Feito isso, é chegado o momento de
passar a palavra ao apresentador (a), que explanará acerca do que será
abordado durante a apresentação. Na sequência, dá-se início ao
desenvolvimento do assunto em pauta e, ao final, faz-se uma retomada
daquilo que foi falado, bem como se apresentam as conclusões a que o
grupo chegou mediante o trabalho realizado.
Postas em prática tais ações, a conquista de bons resultados é fato
certeiro, sempre lembrando que o fator “tempo” também impera nessas
questões, principalmente quando outros grupos também deverão realizar um
seminário. Respeito e cordialidade nunca são demais!
No primeiro exemplo, as palavras olho e gato estão
empregadas em seu sentido próprio, original, denotativo. Usa uma linguagem científica, objetiva.
DENOTAÇÃO =
EMPREGO DAS PALAVRAS NO SEU SENTIDO PRÓPRIO.
Na expressão “olho de gato”, as palavras olho e gato perderam seu sentido original para assumir um novo
significado, o sentido conotativo.
Usa uma linguagem literária, subjetiva.
CONOTAÇÃO =
EMPREGO DAS PALAVRAS NO SEU SENTIDO FIGURADO.
Identifique
se a linguagem empregada é denotativa ou conotativa.
Estes
dois conceitos são muito fáceis de entender se lembrarmos
que duas partes distintas, mas interdependentes, constituem o signo
lingüístico: o significante ou plano da expressão
- uma parte perceptível, constituída de sons - e o significado
ou plano do conteúdo - a parte inteligível, o
conceito. Por isto, numa palavra que ouvimos, percebemos um conjunto
de sons ( o significante), que nos faz lembrar de um conceito (o significado).
A
denotação é justamente o resultado da
união existente entre o significante e o significado, ou entre
o plano da expressão e o plano do conteúdo. A conotação
resulta do acréscimo de outros significados paralelos ao significado
de base da palavra, isto é, um outro plano de conteúdo
pode ser combinado ao plano da expressão. Este outro plano de
conteúdo reveste-se de impressões, valores afetivos e
sociais, negativos ou positivos, reações psíquicas
que um signo evoca.
Portanto,
o sentido conotativo difere de uma cultura para outra, de uma classe
social para outra, de uma época a outra. Por exemplo, as palavras
senhora, esposa, mulher denotam praticamente
a mesma coisa, mas têm conteúdos conotativos diversos,
principalmente se pensarmos no prestígio que cada uma delas evoca.
Desta
maneira, podemos dizer que os sentidos das palavras compreendem duas
ordens: referencial ou denotativa e afetiva
ou conotativa.
A
palavra tem valor referencial ou denotativo
quando é tomada no seu sentido usual ou literal, isto é,
naquele que lhe atribuem os dicionários; seu sentido é
objetivo, explícito, constante. Ela designa ou denota determinado
objeto, referindo-se à realidade palpável.
Denotação
é a significação objetiva da palavra; é
a palavra em "estado de dicionário"
Além
do sentido referencial, literal, cada palavra remete a inúmeros
outros sentidos, virtuais, conotativos, que são
apenas sugeridos, evocando outras idéias associadas, de ordem
abstrata, subjetiva.
Conotação
é a significação subjetiva da palavra; ocorre
quando a palavra evoca outras realidades por associações
que ela provoca
O
quadro abaixo sintetiza as diferenças fundamentais entre denotação
e conotação:
DENOTAÇÃO
CONOTAÇÃO
palavra
com significação restrita
palavra
com significação ampla
palavra
com sentido comum do dicionário
palavra
cujos sentidos extrapolam o sentido comum
palavra
usada de modo automatizado
palavra
usada de modo criativo
linguagem
comum
linguagem
rica e expressiva
a)
Exemplos de conotação e denotação (textos
1 e 2)
Para
exemplificar, de maneira simples e clara, estes dois conceitos,
vamos tomar a palavra cão: terá um sentido denotativo
quando designar o animal mamífero quadrúpede canino;
terá um sentido conotativo quando expressar o desprezo
que desperta em nós uma pessoa sem caráter ou extremamente
servil. (Otto M.Garcia, 1973)
Nas receitas abaixo, as palavras têm, na primeira, um sentido
objetivo, explícito, constante; foram usadas denotativamente.
Na segunda, apresentam múltiplos sentidos, foram usadas conotativamente.
Observa-se que os verbos que ocorrem tanto em uma quanto em outra -
dissolver, cortar, juntar, servir, retirar, reservar - são aqueles
que costumam ocorrer nas receitas; entretanto, o que faz a diferença
são as palavras com as quais os verbos combinam, combinações
esperadas no texto 1, combinações inusitadas
no texto 2.
TEXTO
I
Bolo
de arroz
3
xícaras de arroz
1 colher (sopa) de manteiga
1 gema
1 frango
1 cebola picada
1colher (sopa) de molho inglês
1colher (sopa) de farinha de trigo
1 xícara de creme de leite salsa picadinha
Prepare
o arroz branco, bem solto.
Ao mesmo tempo, faça o frango ao molho, bem temperado e
saboroso.
Quando pronto, retire os pedaços, desosse e desfie. Reserve.
Quando o arroz estiver pronto, junte a gema, a manteiga, coloque
numa forma de buraco e leve ao forno.
No caldo que sobrou do frango, junte a cebola, o molho inglês,
a farinha de trigo e leve ao fogo para engrossar.
Retire do fogo e junte o creme de leite.
Vire o arroz, já assado, num prato.
Coloque o frango no meio e despeje por cima o molho.
Sirva quente.
(Terezinha
Terra)
TEXTO
II
Receita
Ingredientes
2
conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles
Modo
de preparar
Dissolva
os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração.
Leve
a mistura ao fogo,
adicionando dois conflitos
de gerações às esperanças perdidas.
Corte
tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos
beatles o mesmo processo usado
com os sonhos eróticos, mas desta
vez deixe ferver um pouco mais e
mexa até dissolver.
Parte
do sangue pode ser
substituído por suco de
groselha, mas os resultados
não serão os mesmos.
Sirva
o poema simples
ou com ilusões.
(Nicolas Behr)
b)
Exemplo de texto denotativo (texto 3)
Os textos informativos (científicos e jornalísticos),
por serem, em geral, objetivos, prendem-se ao sentido denotativo das
palavras. Vejamos o texto abaixo, em que a linguagem está estruturada
em expressões comuns, com um sentido único.
Texto
3 - texto técnico-científico
Canibalismo
entre insetos
Seres
que nascem na cabeça de outros e que consomem progressivamente
o corpo destes até aniquilá-los, ao atingir
o estágio adulto. ... Esse é um enredo que mais
parece de ficção científica. No entanto,
acontece desde a pré-história, tendo como protagonistas
as vespas de certas espécies e as paquinhas, e é
um exemplo da curiosa relação dos ‘inimigos
naturais’, aproveitada pelo homem no controle biológico
de pragas, para substituir com muitas vantagens os inseticidas
químicos.
(Revista
Ciência Hoje, nº 104, outubro de 1994, Rio, SBPC)
c) Exemplo
de texto conotativo (texto 4)
Além
dos poetas, os humoristas e os publicitários
fazem um amplo uso das palavras no seu sentido conotativo,
o que contribui para que os anúncios despertem
a atenção dos prováveis consumidores e para que
o dito humorístico atinja o seu objetivo de fazer rir, às
vezes até com uma certa dose de ironia.
Por
exemplo, na propaganda de um ‘shopping’, foi usada a seguinte
frase:
Texto
4 - propaganda
O
Rio Design Center acaba de ganhar um novo piso.
Marmoleum
o piso natural
(Revista Veja Rio, maio/junho,96)
O anúncio tem aí um duplo sentido, pois transmite duas
informações:
o Rio Design Center ganhou uma nova loja - PAVIMENTO SUPERIOR -onde
estão à venda pisos especiais;
nesta loja é
possível encontrar o material para piso, importado da Holanda,
que se chama Marmoleum.
Na frase que fecha o anúncio, desfaz-se a ambigüidade: "Venha
até a (ao invés de o)
Pavimento Superior e confira esta e outras novidades de revestimentos
para pisos". Mas a frase de abertura faz pensar em outros sentidos:
o centro comercial ganhou um novo andar, um novo pavimento, ou ganhou
um revestimento novo em todo o seu piso, em todo o seu chão.
d) Exemplo de conotação
Os provérbios ou ditos populares são
também um outro exemplo de exploração da linguagem
no seu uso conotativo. Assim, "Quem está na chuva
é para se molhar" equivale a "/Quando
alguém opta por uma determinada experiência, deve assumir
todas as regras e conseqüências decorrentes dessa experiência".
Do mesmo modo, "Casa de ferreiro, espeto de pau" significa
O que a pessoa faz fora de casa, para os outros, não faz
em casa, para si mesma. Fonte
"A
narrativa está presente em todos os lugares, em todas as sociedades; a
narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, não há em
parte alguma, povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os
grupos humanos têm suas narrativas, e frequentemente estas narrativas
são apreciadas em comum por homens de cultura diferente, e mesmo oposta:
a narrativa ridiculariza a boa e a má literatura: internacional,
trans-histórica, transcultural, a narrativa está aí, como a vida." (Barthes, 1971, p. 19-20)
Narrar
é expor, por meio da fala ou da escrita, um acontecimento ou uma
sucessão de acontecimentos, mais ou menos encadeados, reais ou
imaginários. Assim temos a narrativa poética, a narrativa objetiva
(acontecimentos reais) e a narrativa de ficção (acontecimentos
imaginários). No caso da narrativa de ficção, usamos o termo "narração",
como designativo da prosa de ficção. Neste caso, a narração é uma
invenção, uma criação humana e, como tal, exige arte, técnica, e
imaginação. Enfim, a narração consiste no relato de acontecimentos ou
fatos que envolvem: um narrador que a conte, personagens que vivencie os
fatos narrados, um espaço em que se ambiente a história, uma trama
(conflitos), ação e o transcorrer do tempo em que a ação se desenvolve.
A Mentira Artística
O filho chega tarde a casa e o pai corre severo para ele:
— O que houve?
O
filho expõe (narra) um conjunto de fatos, de acontecimentos que lhe
servirão de desculpas. O objetivo dessa narrativa é o convencimento do
pai. De modo que o filho procura os acontecimentos que motivaram o
atraso (narrativa objetiva), ou os inventa (narrativa ficcional). Daí,
não é sem razão dizer-se que: "o primeiro filho mentiroso descobriu a arte da narrativa", que agrada mais e convence mais porque vai além dos fatos, além da realidade. "A mentira artística chama-se ficção".
A Narrativa de Ficção ou Narração
A
narrativa de ficção é construída, elaborada de modo a emocionar,
impressionar as pessoas como se fossem reais. Quando você lê um romance,
novela ou conto, por exemplo, sabe que aquela história foi inventada
por alguém e está sendo vivida de mentira por personagens fictícios. No
entanto, você chora ou ri, torce pelo herói, prende a respiração no
momento de suspense, fica satisfeito quando tudo acaba bem. A história
foi narrada de modo a ser vivida por você. Suas emoções não deixam de
existir só porque aquilo é ficção, é invenção. No "mundo da ficção"
a realidade interna é mais ampla que a realidade externa, concreta, que
conhecemos. Através da ficção podemos, por exemplo, nos transportar
para um mundo futuro, no qual certas situações que hoje podem nos
parecer absurdas, são perfeitamente aceitas como verdadeiras.
Os
contos de fadas, as fábulas, os desenhos animados, as narrativas
fantásticas, em que tudo pode acontecer, também, nos remetem a outra
realidade, bem mais ampla da que vivemos. Nestes casos, os textos
narrativos, apresentam uma lógica interna que acabamos aceitando como verdade. É o que alguns teóricos chamam de “suspensão voluntária da descrença”, para exemplificar essa suspensão, cito dois exemplos:
Em a Metamorfose, o tcheco Franz Kafka inicia a narrativa com o personagem Gregor Samsa transformado em um inseto (metáfora da condição humana em um mundo adverso, desumano):
“Certa
manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa viu-se em sua
cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas
costas duras como couraça, e ao erguer um pouco sua cabeça viu o seu
ventre marrom, abaulado divididos em saliências arqueadas (...).”
Já Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, dá voz a um defunto que narra logo no primeiro capítulo o seu óbito:
"Algum
tempo hesitei se deveria começar estas memórias pelo princípio ou pelo
fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
morte. Suposto o uso vulgar começar pelo nascimento, duas considerações
me levaram a adotar diferente método: a primeira é que não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor [...]."
Para
o leitor prosseguir na leitura dessas narrativas é necessário que ele
suspenda temporária e voluntariamente a sua descrença e aceite, como um
fato da realidade, uma personagem transformada em um inseto horroroso e
um defunto que resolve contar suas memórias.
Toda
narrativa de ficção transmite uma determinada visão da vida. É por essa
razão que as narrativas de ficção ou a ficção nos tocam tão de perto. ®Sérgio.